A minha insônia não tem nome nem sobrenome. Diferente do que
eu imaginava, ela não é causada por alguém que bagunçou minha vida toda
planejada, nem por alguém que não soube ficar. Não consigo dormir por medo, por
lembrar, por esquecer, por não corresponder e por ser.
Medo de sonhar com a verdade do meu coração. Tantas vezes os
sonhos já bateram sem dó na minha cara, anunciando meus sentimentos e segredos em
um amplificador. Deitar e sonhar com o que se passa o dia inteiro negando pode
ser assustador.
Medo de lembrar as dores já cicatrizadas e acabar rasgando
os pontos dados pelo tempo e pelo esforço. Lembrar do que eu já ouvi, já senti,
já vivi que não me fez crescer flor, só desamor, dor.
Medo de não corresponder às minhas expectativas, sempre tão
altas e tão injustas comigo mesma. Às expectativas dos outros, sempre tão
hipócritas e sugadores de energia. Medo de não corresponder aos sonhos e
promessas feitas a mim mesma anos atrás
Medo por ser exatamente como eu sou. Motivo de orgulho e das
lágrimas que molham meu rosto enquanto escrevo. Por ser tão frágil e, tantas
vezes boba, e tão forte ao mesmo tempo (se isso é mesmo possível!). Por ser
alguém que sente demais, mesmo depois de chorar noites inteiras por sentir. Por
querer a liberdade de ser, apenas. Medo de me perder de mim, outra vez.
A minha insônia não tem um rosto, não tem cheiro, ela é a
soma de uma vida inteira. Uma vida inteira tentando me encaixar num estereótipo
que nunca foi meu. É soma dos medos, dos risos frouxos, das músicas cantadas a
plenos pulmões, das vitórias, das vezes que não consegui sair da cama, das
vezes que não tive insônia, e dos dias que eu fui insônia. É a soma de uma vida
inteira lutando pelo direito de ser eu mesma, sem restrições.
A minha insônia não é minha inimiga. É ela quem me faz
pensar e descobrir as verdades em mim escondidas. É ela quem me tira o juízo ao
insistir num assunto que quero esquecer. E é ela quem me dá coragem pra tentar
mais uma vez, até mesmo agora, no silêncio e na escuridão.