eu calo, mas sempre escrevo

eu calo, mas sempre escrevo

sábado, 29 de julho de 2017

Não consigo dormir

     A minha insônia não tem nome nem sobrenome. Diferente do que eu imaginava, ela não é causada por alguém que bagunçou minha vida toda planejada, nem por alguém que não soube ficar. Não consigo dormir por medo, por lembrar, por esquecer, por não corresponder e por ser.
     Medo de sonhar com a verdade do meu coração. Tantas vezes os sonhos já bateram sem dó na minha cara, anunciando meus sentimentos e segredos em um amplificador. Deitar e sonhar com o que se passa o dia inteiro negando pode ser assustador.
     Medo de lembrar as dores já cicatrizadas e acabar rasgando os pontos dados pelo tempo e pelo esforço. Lembrar do que eu já ouvi, já senti, já vivi que não me fez crescer flor, só desamor, dor.
     Medo de não corresponder às minhas expectativas, sempre tão altas e tão injustas comigo mesma. Às expectativas dos outros, sempre tão hipócritas e sugadores de energia. Medo de não corresponder aos sonhos e promessas feitas a mim mesma anos atrás
     Medo por ser exatamente como eu sou. Motivo de orgulho e das lágrimas que molham meu rosto enquanto escrevo. Por ser tão frágil e, tantas vezes boba, e tão forte ao mesmo tempo (se isso é mesmo possível!). Por ser alguém que sente demais, mesmo depois de chorar noites inteiras por sentir. Por querer a liberdade de ser, apenas. Medo de me perder de mim, outra vez.
     A minha insônia não tem um rosto, não tem cheiro, ela é a soma de uma vida inteira. Uma vida inteira tentando me encaixar num estereótipo que nunca foi meu. É soma dos medos, dos risos frouxos, das músicas cantadas a plenos pulmões, das vitórias, das vezes que não consegui sair da cama, das vezes que não tive insônia, e dos dias que eu fui insônia. É a soma de uma vida inteira lutando pelo direito de ser eu mesma, sem restrições.
     A minha insônia não é minha inimiga. É ela quem me faz pensar e descobrir as verdades em mim escondidas. É ela quem me tira o juízo ao insistir num assunto que quero esquecer. E é ela quem me dá coragem pra tentar mais uma vez, até mesmo agora, no silêncio e na escuridão.


De novo e de novo

Outra vez
Mais uma vez
Cá estou a escrever
Vomitar os segredos do coração
Tentando, sem sucesso, entender
Ouvindo aquela velha canção
Mais uma vez
Outra vez
Paro o desabafo e tento dormir
Coração não concorda e faz lembrar
Penso no que quero deixar ir
Cabeça não aceita e faz sonhar
Desisto de dormir
E volto a escrever
Reticências
Preciso de um ponto final
Reticências

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